TERAPIA OCUPACIONAL: POR QUE É IMPORTANTE
LUTAR PELA ATORN (ABRATO RN)?
Autoria: Maria Gorete de Albuquerque Medeiros - Diretora de divulgação e comunicação
Não se concebe mais, com tanto
avanço tecnológico, vivermos a margem da vida, esperando que alguém resolva
nossos problemas, que os políticos que “colocamos” no poder defendam nossos
direitos, direitos que nem sempre entendemos. Não entender de política é não
saber nossos direitos e deveres, ser “pau mandado”. Ou a gente se politiza ou a
gente se politiza, não tem outra saída.
Nascemos pra dar uma resposta à
sociedade e não podemos ficar parados. A
ATORN é o nosso espaço político, social e cultural, que nos mobiliza, nos envolve,
nos capacita, nos impulsiona, nos une e nos fortalece.
Nós somos uma categoria de profissionais que tem uma dívida com a
sociedade, com nossa família, com a pessoa humana, conosco e com Deus. A sociedade
está sendo mal cuidada na prevenção, no tratamento e na inclusão social. O sujeito só é valorizado enquanto pessoa
funcional, mas pouco se faz para que ele permaneça ativo e nossa intervenção
não é vista como prioridade. Estou arretada
de ouvir casos onde somos descartados. Vou citar os três últimos:
Caso 1:
Meu cunhado, ex jogador
de futebol, fez uma cirurgia no fêmur e ficou acamado por uma semana. Eu ligo
para saber noticias e minha irmã diz:
- Mana, vem
pra cá, eu estou precisando de uma fisioterapeuta!
- Mana, eu não
sou fisioterapeuta!
- Ah mulher, desculpa!
Preciso de uma fisioterapeuta ocupacional para ocupar a mente dele (o ocupar a
mente me doeu mais que Fisioterapia Ocupacional).
Caso 2:
Fui assistir
um cover dos Beatles e alguém me pediu um lugar que sobrava na minha mesa para
um senhor que tinha deficiência sentar-se. Deu-se início uma conversa. Ele
contou-me que era músico bastante conhecido na cidade e em um acidente fraturou
a 5ª vértebra cervical, ficando mais de um ano em cadeira de rodas, deixou de
trabalhar, de tocar, etc. Enquanto ele contava sua história eu já imaginava:
que potencial para a Terapia Ocupacional atuar! Quem deve ter cuidado dele? No
meio da conversa ele disse:
- Mas a minha
filha me tirou da cadeira de rodas, graças a Deus.
- Na sua recuperação, o senhor
foi atendido por uma terapeuta ocupacional?
- Não! Minha filha é fisioterapeuta!
Caso 3:
Eu faço fonoterapia e o meu fonoaudiólogo partilha que seu pai está
acamado e traqueostomizado. Apesar disto, é uma pessoa muito viva, consciente,
e está sendo atendido pelo Home Care. Aí eu pergunto:
- Seu pai é atendido por um
terapeuta ocupacional?
- Não! Só pela fisioterapeuta,
para evitar contraturas e melhorar a força muscular.
- Para que? Ele precisa de Terapia
Ocupacional para dar sentido a sua vida.
- É, mas eu já briguei tanto com
a Home Care, que não quero mais me dispor.
- Mas o seu pai precisa de
funcionalidade!
- É, né?
E
então, terapeutas ocupacionais potiguares, temos ou não uma dívida com a sociedade?
Nossa família apostou em nós e não nos encontra nas rodas das políticas
sociais, normalmente, nem nas pesquisas científicas.
E na dívida para com a pessoa humana e conosco?
Ocupamos um espaço onde
somente nós podemos agir e se não o fizermos, nosso pretenso cliente paga uma
dívida que não lhe cabe: maior tempo para a recuperação, maior tempo de
afastamento do trabalho onerando os cofres públicos, desgaste de sua imagem
enquanto pessoa funcional, produtiva, acarretando perda financeira, social e
afetiva para a família e morte de nossa existência.
As políticas sociais brasileiras ainda não reconhecem nosso valor porque
nosso país não é desenvolvido. Funciona em regime de coronel onde a doença dá
dinheiro e analfabetismo e miséria dá voto.
Mais profundamente, temos uma dívida com Deus que nos criou para darmos
sentido à vida dos nossos clientes, nos deu o anzol - a profissão –precisamos aprender a pescar.
Corro atrás do prejuízo porque o
olhar mais próximo de quem escreve isso é o meu e sei o quanto me acomodei por
questões pessoais. Hoje vejo que não consigo alcançar o patamar que nossa
profissão merece estar, mas posso de onde estou impulsionar os mais jovens a
não desistirem de alçar voo e devolverem o brilho no olhar de quem precisa de
nossos serviços.
Para isso, nós precisamos de
formação, acolhida, unidade e isso quem nos dá é a ATORN. Não pode ser
diferente. Ela nos mostra o caminho que indica onde queremos chegar. “E quem
sabe onde quer chegar, não se perde no meio do caminho”.
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