quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017


TERAPIA OCUPACIONAL: POR QUE É IMPORTANTE LUTAR PELA ATORN (ABRATO RN)?
Autoria: Maria Gorete de Albuquerque Medeiros - Diretora de divulgação e comunicação



Não se concebe mais, com tanto avanço tecnológico, vivermos a margem da vida, esperando que alguém resolva nossos problemas, que os políticos que “colocamos” no poder defendam nossos direitos, direitos que nem sempre entendemos. Não entender de política é não saber nossos direitos e deveres, ser “pau mandado”. Ou a gente se politiza ou a gente se politiza, não tem outra saída.

 Nascemos pra dar uma resposta à sociedade e não podemos ficar parados.  A ATORN é o nosso espaço político, social e cultural, que nos mobiliza, nos envolve, nos capacita, nos impulsiona, nos une e nos fortalece.

Nós somos uma categoria de profissionais que tem uma dívida com a sociedade, com nossa família, com a pessoa humana, conosco e com Deus. A sociedade está sendo mal cuidada na prevenção, no tratamento e na inclusão social.  O sujeito só é valorizado enquanto pessoa funcional, mas pouco se faz para que ele permaneça ativo e nossa intervenção não é vista como prioridade. Estou arretada de ouvir casos onde somos descartados. Vou citar os três últimos:

Caso 1:

Meu cunhado, ex jogador de futebol, fez uma cirurgia no fêmur e ficou acamado por uma semana. Eu ligo para saber noticias e minha irmã diz:

- Mana, vem pra cá, eu estou precisando de uma fisioterapeuta!

- Mana, eu não sou fisioterapeuta!

- Ah mulher, desculpa! Preciso de uma fisioterapeuta ocupacional para ocupar a mente dele (o ocupar a mente me doeu mais que Fisioterapia Ocupacional).



Caso 2:

Fui assistir um cover dos Beatles e alguém me pediu um lugar que sobrava na minha mesa para um senhor que tinha deficiência sentar-se. Deu-se início uma conversa. Ele contou-me que era músico bastante conhecido na cidade e em um acidente fraturou a 5ª vértebra cervical, ficando mais de um ano em cadeira de rodas, deixou de trabalhar, de tocar, etc. Enquanto ele contava sua história eu já imaginava: que potencial para a Terapia Ocupacional atuar! Quem deve ter cuidado dele? No meio da conversa ele disse:

- Mas a minha filha me tirou da cadeira de rodas, graças a Deus.

- Na sua recuperação, o senhor foi atendido por uma terapeuta ocupacional?

- Não! Minha filha é fisioterapeuta!

Caso 3:

Eu faço fonoterapia e o meu fonoaudiólogo partilha que seu pai está acamado e traqueostomizado. Apesar disto, é uma pessoa muito viva, consciente, e está sendo atendido pelo Home Care. Aí eu pergunto:

- Seu pai é atendido por um terapeuta ocupacional?

- Não! Só pela fisioterapeuta, para evitar contraturas e melhorar a força muscular.

- Para que? Ele precisa de Terapia Ocupacional para dar sentido a sua vida.

- É, mas eu já briguei tanto com a Home Care, que não quero mais me dispor.

- Mas o seu pai precisa de funcionalidade!

- É, né?

                       E então, terapeutas ocupacionais potiguares, temos ou não uma dívida com a sociedade?

Nossa família apostou em nós e não nos encontra nas rodas das políticas sociais, normalmente, nem nas pesquisas científicas.

E na dívida para com a pessoa humana e conosco?
Ocupamos um espaço onde somente nós podemos agir e se não o fizermos, nosso pretenso cliente paga uma dívida que não lhe cabe: maior tempo para a recuperação, maior tempo de afastamento do trabalho onerando os cofres públicos, desgaste de sua imagem enquanto pessoa funcional, produtiva, acarretando perda financeira, social e afetiva para a família e morte de nossa existência.

As políticas sociais brasileiras ainda não reconhecem nosso valor porque nosso país não é desenvolvido. Funciona em regime de coronel onde a doença dá dinheiro e analfabetismo e miséria dá voto.

Mais profundamente, temos uma dívida com Deus que nos criou para darmos sentido à vida dos nossos clientes, nos deu o anzol - a profissão –precisamos aprender a pescar.

 Corro atrás do prejuízo porque o olhar mais próximo de quem escreve isso é o meu e sei o quanto me acomodei por questões pessoais. Hoje vejo que não consigo alcançar o patamar que nossa profissão merece estar, mas posso de onde estou impulsionar os mais jovens a não desistirem de alçar voo e devolverem o brilho no olhar de quem precisa de nossos serviços.

 Para isso, nós precisamos de formação, acolhida, unidade e isso quem nos dá é a ATORN. Não pode ser diferente. Ela nos mostra o caminho que indica onde queremos chegar. “E quem sabe onde quer chegar, não se perde no meio do caminho”.

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